08 abril 2011

Policial que baleou assassino conta que chorou ao ouvir voz do filho

 “Quando eu adentrei a escola, estava cheia de pessoas baleadas. Uma montanha de crianças, adolescentes. Uma coisa muito grave. Nunca tinha visto uma coisa dessa”, contou o técnico de eletrônica Robson de Carvalho. Ele tinha acabado de sair para o trabalho quando ouviu a notícia e correu para a escola. Os filhos dele, de 11 e 15 anos, estudam na Tasso da Silveira. Depois que localizou os filhos, Robson passou a ajudar no socorro. “Só em uma leva, em uma picape, trouxemos seis crianças, todas baleadas em estado gravíssimo. Muito feridas mesmo”, lembra.
Como Robson, outros pais e moradores vizinhos da escola também se tornaram personagens dessa tragédia. O socorro veio de gente que, por acaso, passou pelo local naquele momento. “Veio uma menina que socorri com duas amigas com a blusa ensangüentada. Ela estava com um furo nas costas e um na lateral. Ela tinha tomado dois tiros”, relata José Marques Júnior.
O aposentado Luis Alberto Coelho Barros fez da picape uma ambulância. “Estava respirando em cima da picape, mas bem baleada. Eu fiz o que pude. Deus me orientou. Eu fiz o que Deus tocou no meu coração. Não custa nada ajudar. Eu tentei, pelo menos, salvar a vida deles todos. Se não sobreviver, só Deus é que pode fazer um milagre. Não sou eu, mas pelo menos eu tentei.”
A casa da dona de casa Gildete Antunes, bem em frente à escola, virou abrigo, refúgio dos alunos que conseguiram escapar. “Cheguei ao portão e perguntei o que estava acontecendo. Para mim, era bomba ou fogos. Os alunos saíram correndo direto para minha casa. Eles começaram a pular o portão e pedindo ajuda – ‘Tia, me socorre. Tem um homem dando tiro dentro da escola’. Aí veio um menino baleado, com um tiro no ombro, depois veio outro baleado. Eles foram parar no meu quarto, debaixo da minha cama”, disse Gildete.
Matheus Coelho, de 13 anos, foi um dos que conseguiram fugir. “Ele atirava, eu ficava pedindo pelo amor de Deus para ele não me matar. Eu falava isso tudo. Na hora em que ele estava recarregando a arma, eu estava orando. Quando ele voltava, eu falava toda hora. Na segunda vez, ele falou: ‘Fica tranquilo, gordinho, que eu não vou fazer nada contigo’. Ele matou na minha frente as garotas e os garotos. Ele deu muito tiro na cabeça das garotas e no peito”, contou o menino.
Jade Ramos, de 12 anos, conseguiu se esconder e também escapou. “Eu vi ele subindo a escada e muita gente gritando. Ele falava assim: ‘Não sobe que eu vou pegar vocês. Não adianta vocês subirem, eu vou matar vocês’. Eu pensei assim: ‘Sou muito nova para morrer’. Eu subi e tinha uma menina que não estava conseguindo subir. Eu dei a mão a ela e ajudei ela a terminar de subir a escada. Muita gritaria, o professor chorando, as alunas desmaiadas. Nas escadas, muito sangue”, relatou.
Não muito longe dali, o acaso também levaria até a escola o homem que daria fim à tragédia. O sargento Marcio Alexandre Alves, do batalhão de Polícia Rodoviária do estado, participava de uma blitz contra o transporte irregular – uma operação de rotina quebrada pelo aviso de um menino ferido.
“Nós corremos até o local. Ouvi alguns disparos ainda e subi ao segundo andar da escola, vendo o elemento saindo de dentro da sala com uma arma na mão. Ele apontou em minha direção, eu efetuei dois disparos e ele caiu”, contou o sargento da Polícia Militar do Rio, Marcio Alexandre Alves.
Depois que baleou o assassino, o sargento Marcio e o parceiro, o cabo Ednei Feliciano, correram para ajudar as crianças. Uma delas emocionou o sargento, um homem com 18 anos de serviço e experiência no combate ao tráfico de drogas.
“Uma menina olhou para mim e perguntou se poderia me dar um beijo. Eu falei que podia, ela me abraçou, me deu um beijo no rosto, desceu e saiu correndo. Deve ter ido procurar a família. É uma emoção forte, sou pai, tenho dois filhos”, contou o sargento.
O sargento Marcio Alexandre Alves.desmoronou novamente quando conseguiu falar com o filho mais velho ao telefone. “Meu filho chegou da escola, foi esquentar o almoço dele no microondas e reconheceu minha voz pela televisão. Correu para sala para assistir e me ligou preocupado, chorando. Aí eu também me emocionei e falei com ele que à noite eu estaria em casa para dar um abraço bem forte nele. Chorei”, confessa.
Jade não conseguiu falar pessoalmente com seus heróis, mas fez questão de mandar um recado aos policiais. “Muito obrigado por salvar minha vida. Vocês são meus heróis”, disse a menina.

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